quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

MÓDULO 3- Políticas Públicas e Raça - UNIDADE 4- - Movimento Negro e Movimento de Mulheres Negras: uma Agenda Contra o Racismo

Principais conceitos apresentados na unidade

Intectuais: Elites negras – denominação dada aos líderes intelectuais dos movimentos negros, receberam essa denominação por pertencerem a uma camada social composta por indivíduos que tiveram alguma ascensão social, deslocando-se da massa de trabalhadores/as de baixos estratos sociais com pouca ou nenhuma escolaridade.

Black Power – Expressão criada pelo militante do movimento negro nos Estados Unidos, Stokely Carmichael, em uma frase que ficou célebre: “Estamos gritando liberdade há seis anos. O que vamos começar a dizer agora é poder negro”.Significa poder negro, foi um movimento liderado por negros/as, que teve seu auge no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 em todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos. O movimento ressaltou o orgulho racial, incentivou a criação de instituições culturais, provocou políticos/as negros/as para promoção dos interesses coletivos e da autonomia dos/as negros/as.

Embranquecimento social – É o processo pelo qual indivíduos negros, principalmente intelectuais, eram sistematicamente assimilados e absorvidos às elites nacionais brasileiras, ou seja, o ingresso de um indivíduo não branco ao mundo das classes médias e altas, composta em sua maior parte por pessoas de cor branca. Nesse processo de ascensão social, tais indivíduos poderiam optar por adotar e compartilhar dos valores da sociedade dominante, entendidas como pertencentes à “cultura branca”.
Soul Music – gênero musical dos E.U.A nascido do rhythm and blues e do gospel durante o final da década de 1950 e início da década de 1960 entre os negros. Significa música da alma.
UAGACÊ ou UHC – União dos Homens de Cor, organização que tem início em 1943, se estabelece na década de 1950 e se expande na década de 1960, tinha uma perspectiva de atuação social, a busca de integração do negro na sociedade brasileira através de sua “educação” e sua inserção no mercado de trabalho. A UHC buscava o reconhecimento da participação dos/as negros/as no projeto de nação brasileira. Uma de suas metas era inserir seus/suas representantes em cargos eletivos, além de atrair negros/as parlamentares estaduais ou municipais para a organização.

Neomalthusianos – O grupo de seguidores da Teoria Populacional Neomalthusiana que defende o planejamento familiar, é uma atualização da teoria criada pelo demógrafo Thomas Malthus. Para eles a causa da pobreza e do subdesenvolvimento dos países é seu crescimento populacional, sua superpopulação, elevando os gastos com as políticas sociais, esgotando os recursos naturais e dificultando investimentos em setores produtivos e consequentemente gerando desemprego.

O movimento negro- nome dado ao conjunto dos diversos movimentos sociais afro-brasileiros, surgiu no início do século XX, quando emergiram na cena pública os primeiros protestos contra o preconceito de cor nos jornais da chamada Imprensa negra e nas associações que, aos poucos, assumiram objetivos políticos em favor da integração do/a negro/a na sociedade de classes.
Movimentos sociais expressivos envolvendo grupos negros estiveram presente em toda a História do Brasil. Porém, até a Abolição da Escravatura em 1888, estes movimentos eram quase sempre clandestinos e de caráter radical, pois seu principal objetivo era a libertação dos negros cativos. Tendo em vista que os escravos eram tratados como propriedade privada, fugas e insurreições, além de causarem prejuízos econômicos, ameaçavam a ordem vigente e tornavam-se objeto de violência e repressão não somente por parte da classe senhorial, mas tambem do próprio Estado e seus agentes.

Movimento de Mulheres negras - Os primeiros grupos organizados de mulheres negras, ligados inicialmente ao movimento negro e feminista surgiram em meio as mobilizações contra a ditadura e pela abertura democrática, interessadas em dar visibilidade às suas demandas e percebendo que poderiam abrir uma agenda própria em cruzamento com o movimento antirracista e antissexista, formaram-se os primeiros coletivos de mulheres ao longo da década de 1980 e 1990, que, aos poucos, foram se institucionalizando.
Esses novos sujeitos coletivos são fortalecidos a partir de incentivos e experiências adquiridas tanto no âmbito nacional como internacional.
No primeiro, inscreve-se uma disputa por participação política em esferas civis e estatais, ampliadas no contexto de abertura institucional.
O segundo esteve atrelado aos processos de mobilização em conferências internacionais, várias delas estudadas neste Curso e, posteriormente, por intermédio de auxílios de agências financiadoras estrangeiras. As ativistas do movimento de mulheres negras procuraram, sempre, articular as esferas locais e globais de mobilização de recursos econômicos e políticos.
Se, por um lado, essas eram conquistas feministas que beneficiavam as mulheres indiscriminadamente, por outro, o movimento de mulheres negras via a necessidade de manter seu questionamento sobre a pertinência de focalizar políticas para suas demandas específicas, uma vez que,embora o sexismo atingisse diretamente todas as mulheres, sobre as mulheres negras recaía ainda o racismo, outro tipo de dominação que incidia sobre aquelas cujas características físicas afastavam-se do padrão estético branco. Esse fenômeno social exigia medidas direcionadas para coibi-lo, especialmente porque a ação combinada dessas discriminações (por gênero e raça) com outras formas de dominação e exploração (como a econômica) potencializava os efeitos negativos para as mulheres negras.
O leque de temas e demandas do movimento de mulheres negras foi ampliando-se à medida que o ativismo ganhava mais fôlego e experiência na ação coletiva. A partir do final dos anos de 1980 e durante os anos de 1990, tais mobilizações passaram por processos intensos de institucionalização.
Era a passagem dos coletivos políticos para formalização das organizações não governamentais, marcada pela profissionalização de suas lideranças, pela organização dos coletivos e pela administração das finanças destinadas à elaboração e efetivação dos projetos sociais orientados para públicos específicos. Nesse contexto, surgem organizações como: Maria Mulher, Geledés, Criola, Casa de Cultura da Mulher Negra, Mãe Andresa, Fala Preta, dentre outras.
Oferecendo desde oficinas de estética combinadas com a valorização da beleza negra a cursos profissionalizantes voltados para a geração de renda, essas organizações passaram a atuar no processo de formação de mulheres negras acerca de seus direitos, além de promoverem atividades de denúncia da discriminação racial e da violência contra a mulher e de defesa dos direitos humanos.

O movimento negro contemporâneo - A ideologia adotada pelo movimento negro contemporâneo tem características que combinam a reivindicação por direitos civis e sociais e o reconhecimento cultural. Essa nova direção política foi sintetizada por D’Adesky : “O movimento negro exerce uma ação marcada, sobretudo por um discurso que reivindica o pleno reconhecimento da cidadania do negro, baseado na preservação e valorização das tradições culturais de origem africana, na reinterpretação da história e na denúncia de todos os fatores de desenraizamento e de alienação que atingem população negra.”(D’ADESKY, 2001: 151)
A cidadania reivindicada pelo movimento negro, segundo o autor, não está circunscrita à dimensão material apenas, mas apresenta-se ainda em termos simbólicos, que dizem respeito ao patrimônio cultural. Desse modo, ela se faz tanto pela dimensão da distribuição de recursos com a finalidade de redução das desigualdades sócio econômicas que separam brancos e negros, quanto pela dimensão cultural e simbólica, lida aqui pela chave do reconhecimento da presença, contribuição e participação da comunidade afro-brasileira na construção da nação em termos econômicos, políticos e socioculturais.

A constituição de 1988, das leis à implementação dos direitos- O ponto alto da mobilização negra também se fez representar no texto constitucional de 1988. As conquistas do movimento negro, na nova Constituição, abriram uma agenda de ações para o ativismo negro, cujas demandas se voltaram para as ações de implementação de políticas direcionadas para a população negra. Isso se fez por meio do crescimento e profissionalização de seus ativistas e suas organizações civis, as quais foram se tornando as principais protagonistas de iniciativas antirracistas durante a década de 1990 .
Duas ações fundamentais deste governo devem ser destacadas, porque os impactos são expressivos para todo o território nacional. A primeira é a promulgação da Lei 10639/2003, que institui o Ensino de História e Cultura da África e dos/as Afro brasileiros/as em todos os estabelecimentos de ensino do país.
A segunda ação com grande impacto no processo de institucionalização das questões raciais,a criação da Secretaria Especial Para Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), em 2003.
Nesse sentido, entramos numa nova fase da política dos movimentos sociais. Para além das reivindicações, os/as ativistas, bem como suas organizações formam uma ampla rede de controle do poder público. Cada vez mais, o movimento torna-se incisivo na proposta de garantia da igualdade racial, não aceitando nenhuma ação que possa discriminar pessoas seja por seu pertencimento étnico, seja por suas características físicas. Com efeito, com cerca de um século da mobilização coletiva em favor da cidadania para a população negra neste país, o movimento negro moderno agora passa por uma fase que é a de fortalecer e ampliar as reivindicações em favor de políticas públicas direcionadas à redução das desigualdades, focalizadas em gênero e raça, promovendo, assim, o universalismo dos direitos sociais, sem desprezar o pluralismo existente em nossa sociedade.

postado por Jane Ribeiro Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário