quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Vivenciando a discriminação


Quando nos textos da unidade 1, do módulo2, se diz que, por exemplo: “Poderíamos imaginar que os efeitos nocivos do modelo se restrinjam às mulheres, no entanto, o que podemos notar é que, apesar da superioridade social atribuída ao masculino, a classificação de gênero prejudica também os homens. Já nos primeiros anos de escola, meninos são considerados, a priori, desatentos e bagunceiros e, em consequência, menos motivados para o estudo do que as meninas. Na adolescência, podem sofrer a expectativa, ou até a pressão, de contribuírem para a renda familiar ou pessoal como um requisito “obrigatório” dos homens. A conjunção entre escola e trabalho pode ser um fator do abandono escolar para eles.

A ideia de que o homem deve ser o provedor de um domicílio ou de suas próprias despesas atua como estímulo à interrupção da escolaridade.”
Vejo isso todos os dias em meu ambiente de trabalho, alguns alunos matriculados nas turmas no início do ano letivo, deixam a escola muitas vezes ainda no primeiro semestre por que não conseguiram conciliar o trabalho com a escola, essa realidade está diretamente ligada a condição social da família, na grande maioria das vezes os alunos que chegam ao fim do ano e são aprovados para o ano seguinte são aqueles inseridos em um ambiente familiar melhor estruturado, em uma família de maior poder aquisitivo, por isso chegamos ao fim do ano com uma maioria de alunas nas turmas.


Outra questão que vivencio todo dia é separação das brincadeiras de meninas e de meninos. Na educação física, por exemplo, a professora sempre estipula o futebol para os meninos e as meninas não podem brincar por que é “esporte de homem”, e peteca, pular corda, exercícios mais levem que são de mulheres e destes os meninos se recusam a participar por que é “coisa de florzinha”.
Fora o preconceito presente pro parte tanto de colegas e também de professores para com alunos homossexuais ou lesbicas, dizem: ahh, sei é aquela menina macho....ou é aquele bichinha da turma x....e outros mais que presencio diariamente.
Percebo também que apesar de estarmos no século XXI, ainda existem inúmeros tabus quanto a sexualidade principalmente a feminina, algumas mulheres, e não se precisa ir longe, mesmo sexualmente ativas, não tiveram se quer um orgasmo por que não se conhecem, porque têm vergonha, porque fazem sexo simples e unicamente para provar para seus companheiros que são “boas de cama” è como se trocassem o próprio prazer pela fama, pelo status de ser “quente”, “boa”, “gostosa”. Isso também é uma forma de machismo.

Em relação ao que foi estudado na unidade 1, penso que toda essa problemática ligada a sexualidade, ao sexo, ao gênero enfim a todos os assuntos abordados, estão ligados a forma com a qual se é educado para lidar com elas, como os próprios autores dos textos citam, é na família, primeiro grupo social em se vive, que aprendemos como lidar com tais assuntos, em uma família “liberal” a tendência é haver menos machismo, em uma família é “tradicional” com certeza as mulheres serão condicionadas a serem Amélias e os homens machões.
Tendo em vista esse pensamento e a necessidade de haver um equilíbrio, respeito mutuo entre homem/mulher caberia, segundo o meu pensamento, a escola agregar mais esse papel.

Talvez dinâmicas/ brincadeiras de inversão de papéis, como vi no vídeo “Acorda Raimundo” ( o se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro sente, mesmo que seja “de mentirinha”, só pra ver como é), teatralização de situações diferentes das do cotidiano ou abordagens mais diretas quanto ao tratamento oferecido ao homem e á mulher, debates sobre os temas gênero, raça, sexo, pobreza, igualdade, diferença, equidade, identidade de gênero, masculinidade, orientação sexual, construções sociais, naturalização do social, sexualidade, heterormatividade, homossexualidade, travesti, transexual, Feminismo, poderiam contribuir com a formação dos futuros (hoje adolescentes e jovens) adultos tanto homens que aprenderiam que não têm que provar sua virilidade a todo momento através da agressividade, ou não demonstração de sensibilidade e as futuras mulheres que não é por que jogam futebol que são “sapatão”, ou que não precisam provar com sua virgindade que ama seu namorado, Demonstrando a elas sua capacidade e falando abertamente sobre temas considerados tabus, elas e eles se tornariam adultos bem resolvidos e cidadãos conscientes, que respeitam a liberdade e as diferenças de cada um.
Para isso, a idéia que me veio foi a seguinte: um programa de capacitação para professores sobre os temas que deverão ser tratados, onde pudessem se aprofundar nos assuntos e saber lidar e passá-los aos alunos. Sim, por que muitos de nós professores não estamos nem um pouco preparados para lidar com os temas tratados aqui, quanto mais para ensiná-los, debatê-los com os alunos e menos ainda para bater de frente e com muitas famílias que rejeitariam a idéia.
Após a capacitação dos professores, o projeto seria implantado na escola e repassado aos alunos, um dia na semana ou mais de um ou um quinzenalmente, os alunos teriam contato, seja através de vídeos, músicas, textos, palestras (com psicólogos, sexólogos, médicos, padres, pastores- por que não- ou outros profissionais que ajudassem a desenvolver o tema- um dos dias entrevistar um travesti, por exemplo, mostrando que ele é ser humano também e não um bicho como muitos pensam) entre ouros materiais que tratassem dos temas previamente escolhidos para aquele dia. Assim os/as alunos/as poderiam falar abertamente sobre o tema, dizendo o que pensam, tirando dúvidas enfim colocando mesmo o assunto em pauta, aí sim, perder-se-iam os medos, como diz o outro vídeo “medo de que?” Por na maior parte das vezes temos mesmo, medo do desconhecido.
Para que o projeto desse certo seria necessário, claro, capacitação mesmo... dos professores, por que lidar com a garotada não é fácil e eles percebem muito bem quando temos conhecimento do que estamos expondo e se sentem seguros ou não para perguntar, mostrar seus pensamentos, seus medos, angústias, enfim..... tratando de assuntos tabus de forma natural e correta poderíamos formar cidadãos de verdade e talvez a violência, discriminação, abusos e qualquer outro tipo de intolerância tornar-se-iam sem sentido, eles/nós descobriríamos que não só é feio discriminar, mas não faz sentido, não só é ridículo ter fama de pegador e “usar” as meninas e “abusar” de seus sentimentos, mas que também isso não é necessário para um rapaz se sentir homem .....e por aí se vão outros tabus/ mitos/ sendo quebrados.....

Por Jane Ribeiro Lima

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