quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Lugar de mulher é......

É engraçada a questão das diferenças de gênero principalmente quanto às “obrigações” femininas e masculinas, fica a cargo dos homens os provimentos da casa à mulher os cuidados com a casa, filhos e marido. Ouvi na noite de ontem em uma lanchonete: sua filha já tá quase moça, você precisa deixá-la fazer alguma coisa na cozinha, já ir aprendendo a lavar umas roupinhas, por que se não quando crescer será uma péssima dona de casa, isso me revoltou um pouco mas nem discuti pois esta maneira de pensar já está impregnada culturalmente na sociedade, antes do curso eu já ouvia esse tipo de comentário mas muitas vezes nem levava a mal ou até concordava, outros comentários que se ouve: vou embora rápido por que meu marido já está chegando e quer a janta pronta, se não tiver tudo preparado ele briga e com razão, né coitado chega cansado.

Ou ainda um comentário que minha filha fez hoje: mãe será por que homem não usa roupa rosa, é proibido?
Não apenas em meu ambiente de trabalho, mas no meu cotidiano observo essa “cultura masculina”, em minha área de atuação, por exemplo, observo o que li em alguns textos dessa unidade: o número de professores (homens) de química, física e matemática é muito maior que o de mulheres, a estas como eu, por exemplo, são reservados a História, Geografia, Português, Tidas como mais fáceis.
Em minha escola, outro exemplo é o número de serventes (auxiliares de serviços gerais), é infinitamente maior que o de homens, são exatamente 15 mulheres e um homem apenas, o que dizem é: isso é serviço de mulher.
Cuidar da casa, dos filhos e do marido é tido como realmente obrigação feminina, mesmo que a mulher “trabalhe fora” tem que fazer jornada dupla, sou exemplo disso, como já disse em outra oportunidade.
Optar pela profissão de docente já é um reflexo da necessidade feminina em conciliar trabalho e família, uma professora fica na escola 4 horas por dia e o restante de seu trabalho é feito em casa, onde ela tem que conciliar o preparo do jantar, por exemplo, ao seu planejamento das aulas do dia seguinte.
Os maridos, inclusive o meu, querem chegar do trabalho e encontrar a casa limpa e organizada, os/as filhos/as limpas, alimentadas, agasalhadas e com tarefas de casa prontas, sem se esquecer da roupa limpa, passada, guardada e principalmente sua mulherzinha, que já deu conta de todo o trabalho doméstico, limpinha cheirosinha para satisfazer suas necessidades sexuais e o que é pior, na maioria das vezes suas próprias necessidades nem sexuais, nem qualquer outra pessoal não são satisfeitas, aliás aproveito para chamar atenção para esse aspecto, já que estamos tratando de equidade de gênero, a sexualidade feminina também deveria ser tratada no âmbito das políticas públicas.
É mais engraçado (?) ainda que eles que trabalham fora e em casa tem ainda que dividir as despesas da casa mas eles jamais dividem as tarefas doméstica, é mais que machismo, por que se fosse só o machismo, mesmo que a mulher tivesse um trabalho remunerado, eles não aceitariam ajuda nas despesas firmando assim seu emblema de “machão”, de provedor, eu nem sei como classificar isso que muitos dizem e fazem: já que você trabalha tem que dividir as despesas, ai quando ela diz já que eu trabalho e divido as despesas você também tem que dividir as tarefas, ele: isso é sua obrigação. È muito cômodo a eles e confortável, não?
As mulheres negras são ainda mais atingidas por toda essa discussão, por que a elas na maioria das vezes são destinados os trabalhos de empregadas domésticas, já aos homens negros, não menos atingidos, sobram os bicos, os trabalhos braçais e de menor remuneração, reflexo direto da baixa escolaridade explicitada nos gráficos mostrados ao longo dos textos lidos.

Diante dos assuntos tratados: violência de gênero, sobrecarga de trabalho feminino, graças à dupla jornada: afazeres doméstico/trabalho remunerado e a necessidade de maior compreensão e ajuda dos maridos/companheiros e empoderamento feminino, a idéia que me surgiu foi a seguinte:
A criação de um “curso” para casais antes de se casarem, como assim?
Bom, quando a casal está se preparando para se casar, precisa esperar os trâmites legais do casamento no cartório, certo? Ok, esse curso, ou o certificado dele poderia ser um dos documentos obrigatórios a serem apresentados ao cartório para que pudessem se casar.
O curso seria assim: O governo criaria um curso laico, onde muitos profissionais: psicólogos, médicos, sexólogos, economistas, assistentes sociais enfim, os que se julgassem necessários para que ministrassem cada um o conteúdo pelo qual fosse responsável, por exemplo, planejamento familiar, vida afetiva, valorização da mulher na relação, vida sexual entre outros, além de o economista dar alguma base ao casal de como otimizar os recursos adquirido pelos dois ao longo da vida conjugal. A duração poderia ser de 2 meses, ou mais com encontros semanais, onde os dois deveriam assistir as aulas e claro fazer atividades simuladas, sobre sua vida conjugal futura. Poderiam ser tratados: como você agiria em determinada situação? O que você pensa sobre o “machismo”, ou como serão divididas as tarefas da casa, quantos filhos teremos, quando?Enfim há um leque de possibilidades para se tratar e em meio a esses assuntos estariam violência doméstica, conscientizando o casal, também desmitificar a questão de lugar da mulher é em casa entre outros ou é obrigação feminina cuidar da casa, dos filhos e dos maridos.
Seria uma iniciativa que poderia dar certo, o cartório ou mais de um “juntaria” os casais que entraram com os documentos e formaria uma turma e o Estado financiaria o curso, os materiais, professores, local.
Parece utópico, mas conversando com meus pais esses dias, me disseram que quando se casaram era obrigatório fazerem curso de noivo na igreja católica e que lá tratavam sobre diversos assuntos, esse seria como um curso de noivos, mas que não professa nenhuma religião.
Tal ação talvez pudesse diminuir muito os casos de violência, inferiorização da mulher através da conscientização dos dois, claro que não atingiria a todos os casais, visto que boa parte não se casa legalmente e a obrigatoriedade desse curso poderia aumentar ainda mais o número de casais que apenas se unem, “moram Juntos”, mas se algum incentivo ao casal fosse dado, principalmente financeiro, com certeza eles se sentiriam atraídos.
Hoje muitos se casam movidos por paixões momentâneas, sem reflexão, sem o devido planejamento, sem ao menos se conhecerem direito, sem saberem dos “defeitos” uns dos outros por isso ocorrem muitos problemas, principalmente violência motivadas por ciúmes e outras causas banais, se antes de se casarem tivessem pelo menos uma idéia prévia de suas vidas conjugais muitos problemas poderiam ser evitados.

Por Jane Ribeiro Lima

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